Marcos Palácios, do GJOL, discorre aqui sobre uma possível crise do fotojornalismo. Suas reflexões levam em consideração a fala de Mario Tedeschini Lalli, jornalista multimídia e professor de jornalismo no Istituto per la Formazione al Giornalismo de Urbino (Itália), afirma que os fotojornalistas sofrem, há algum tempo, de uma crise quanto a seu papel e lugar no jornalismo.

Por um lado a crise se apresenta no plano pessoal: os jornais cada vez mais terceirizam os serviços fotográficos, através de agências e freelances, e reduzem seus quadros de fotógrafos fixos de redação.

Por outro lado, a crise se apresenta no plano do produto: cada vez mais a fotografia é avaliada por sua qualidade ilustrativa e formal, e não como elemento essencial em si mesmo da crônica jornalística. Estaria em curso, dessa forma uma ‘tendência estetizante’, em detrimento do elemento narrativo fotojornalístico como tal.

Estaria morrendo o ofício de fotojornalista?

Para Lalli, que procurou responder a essa pergunta durante o recente Fotografia 2.0 – Scenari dalla carta stampata alla rete, realizado em Milão (Itália), essa crise de identidade do fotojornalista ocorre em meio à emergência de novas tecnologias multimídia, que abrem todo um novo espaço para a fotografia como componente da narrativa fotográfica. No entanto, adverte Lalli, essa nova configuração e iserção da fotografia na produção jornalística força o fotógrafo a adquirir não só um novo cabedal de técnicas, mas também repensar a própria gramática da criação fotográfica e fotojornalística.

Entre outras coisas, quando se passa da ‘foto única’ para uma galeria de fotos ou um slide-áudio-show, o fotojornalista tem que passar a pensar em termos de ‘planos de dentro da cena’.

O debate é enriquecido pela contribuição de Leonardo Brogioni, também fotógrafo, jornalista e professor de fotojornalismo, que comentando Lalli assinala que “desde sempre o fotojornalista pensou em sua reportagem como um relato pela imagem”, o que significa que, até hoje, o fotojornalismo se baseou “na individualização e captura do momento emblemático e portanto baseado na busca de uma ‘imagem única’ e eficaz para representar a cena singular de um evento ou de uma situação, para depois compor o relato com o conjunto dessa imagem única”.

De hoje em diante, adverte Brogioni, o fotógrafo tem que mudar sua mentalidade: não só buscará a cena emblemática mas trabalhará em seu interior para produzir mais imagens, em função da montagem final de um audiovisual, que por sua vez não poderá prescindir de um áudio.

Em síntese, afirma Brogioni, inevitavelmente muda a gramática da linguagem fotográfica porque mudam os instrumentos e mudam também os canais de difusão da mensagem, que não se restringem mais ao jornal ou revista, mas se alargam para as redes de alta velocidade.

Brogioni acredita que “essas mudanças na linguagem trarão novas soluções, novos modos de ver, novos autores: inovações, em suma, que provém do mundo da informação e que – se quisermos manter a funcionalidade ao bom jornalismo – devem ser absorvidas sem que se caia na ‘deriva estetizante’. Ainda que, por outro lado, se tudo isto vier a dar vida a uma nova corrente artística, talvez um dia nós jornalistas possamos nos gabar de havermos traçado o caminho para alguns mestres da arte. Já veremos” – finaliza Brogioni.